Hipocalcemia: A ponta do Iceberg.

A evolução na pecuária leiteira foi crescente nas últimas décadas, aumentando a quantidade de leite produzido em 87% mesmo com a redução no número de propriedades leiteiras. Isso foi possível devido a intensificação dos sistemas, que incentivaram o desenvolvimento de tecnologias para esse setor, foram desenvolvidos os mais diversificados produtos, como biotécnicas reprodutivas, melhoramento genético dos animais, desenvolvimento de produtos nutricionais e farmacêuticos, melhoramento de sementes e produtos agrícolas mais eficientes, além de mecanização de implementos e automação de serviços. Todas essas melhorias contribuíram para termos rebanhos de alta produção, eficientes e economicamente viáveis, no entanto, quando falamos em um sistema intensificado, falamos também de maiores desafios e de animais mais desafiados. (Vilela et al 2017) 


As vacas leiteiras de alta produção, são consideradas máquinas metabólicas, capazes de produzir altas quantidades de leite por dia, no entanto precisam de um suporte nutricional minimamente adequado e de condições de bem-estar animal. Quando pensamos no ciclo produtivo da vaca, ou seja, seus 305 dias de lactação e mais 60 dias de secagem, constatamos que o período mais desafiador nesse ciclo é a transição para a nova lactação.   


O período de transição ocorre nas 3 últimas semanas de gestação e perdura até as 3 semanas após o parto de uma vaca. Nesse momento ocorrem eventos como o crescimento exponencial do feto e a transição de gestante para lactante, provocando um aumento da demanda energética e mineral e, portanto, das exigências nutricionais. Contudo, a dieta não supre a maior necessidade de nutrientes, pois em decorrência da menor capacidade de armazenamento do rúmen há uma consequente queda na ingestão de matéria seca (IMS), o que leva a uma situação de déficit energético conhecida como balanço energético negativo (BEN) (NETO et al. 2011).  


De maneira geral toda vaca no período de transição entra em um déficit energético, no entanto vacas de alta produção apresentam um BEN mais acentuado, o que acarreta um maior comprometimento da resposta imune. Concomitante a isso ocorre um aumento na necessidade de cálcio no organismo principalmente no pós-parto recente, devido a produção do colostro, essa dificuldade na manutenção dos níveis de cálcio comprometem a função muscular, predispondo a enfermidades, estimasse que 75% das doenças que podem acometer uma vaca ocorrem durante este período de transição. (REIS et al. 2016)    


Dentre as enfermidades que acometem as vacas, a hipocalcemia é uma das enfermidades mais sorrateiras, pois na sua forma clínica (abaixo de 5,5mg Ca/dL) acomete poucos animais, entre 0,5 a 5%, variando de acordo com o manejo nutricional da fazenda, a idade e número de lactações das vacas e a manutenção desses animais no rebanho. Se você quiser entender melhor sobre as causas dessa enfermidade, acesse esse artigo.

No entanto além da hipocalcemia clínica, temos uma outra manifestação da doença, que causa ainda mais impactos,  a sua forma subclínica (8,0 e 5,5mg Ca/dL) que age de forma silenciosa e acomete mais de 50% do rebanho parturiente, e embora não debilite o animal a ponto de sinais clínicos (animal em decúbito), o grande impacto é o aumento do fator de risco a outras doenças como a retenção de membranas fetais que aumenta 4x mais a chance de ocorrência, já a mastite em 5,4x, deslocamento do abomaso 6,0x e a cetose 23,4 x. 


Como mencionado anteriormente, todas as vacas no período de transição irão passar pelo BEN e dificuldades na manutenção de cálcio, mesmo que transitório, o que difere um animal de outro é o nível de desafio que esse animal está. Buscar acompanhar esses animais mais de perto, tomar medidas que minimizem esses efeitos e tratar precocemente quando ocorrer é fundamental para o sucesso da lactação dessa vaca. Quer entender como analisar o período de transição? Clique aqui.


Quando temos um rebanho numeroso, acompanhar esses animais individualmente é um desafio, por esse motivo vem sendo desenvolvido tecnologias que auxiliam o produtor na rotina diária, buscando enxergar os animais individualmente e não apenas como lote comum, a pecuária de precisão chegou trazendo uma riqueza de dados individuais e periódicos dos animais, possibilitando tomar medidas de profilaxia ou tratamento precoce da enfermidade.  Quer entender como a Cowmed pode te auxiliar a monitorar seus animais individualmente? Chame a equipe de especialistas da Cowmed para conversar.


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Fontes consultadas.


DUFFIELD, T.F. Subclinical ketosis in lactating dairy cows: metabolic disorders of ruminants. Veterinary Clinics of North America. Food Animal Practice. v. 16, p 231-256, 2000 


NETO, A. C.; DA SILVA, J. F. C.; DEMINICIS, B. B.; FERNANDES, A. M.; JARDIM, J. G.; AMORIM, M. M.; GUIMARÃES FILHO, C. C. Problemas metabólicos provenientes do manejo nutricional incorreto em vacas leiteiras de alta produção recém paridas. Revista Científica eletrônica de Medicina Veterinária, São Paulo, v. 12, n. 11, p.1-25, 2011. 


REIS, J. F.; MADUREIRA, K. M.; SILVA, C. P. C.; BALDACIM, V. P. A.; FAGLIARI, J. J.; GOMES, V. Serum protein profile of Holstein cows during the transition period. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, v. 68, n.3, p.587-595, 2016. 


VILELA, D., RESENDE, J. C. D., LEITE, J. B., ALVES, E. A evolução do leite no Brasil em cinco décadas. Revista de Política Agrícola, v. 26, n. 1, p. 5-24, 2017. 



Jordani Borges Cardoso

Analista De Customer Sucess

Zootecnista