Telemedicina para vacas?

Dois anos de profundas e avassaladoras mudanças em nossas maneiras de viver mediante ao cenário imposto pela pandemia nos deparamos com uma realidade totalmente nova, o confinamento. Surgiram novos hábitos de consumo, novas maneiras de nos entreter, novas formas de trabalhar e até de ir ao médico. A maioria dos setores da economia precisaram fechar suas portas frente à crise sanitária, o que não ocorreu no setor de produção agropecuária que, por estar naturalmente longe de grandes aglomerações e focos de transmissão, permitiram seguir trabalhando e produzindo alimentos.

As transformações que estamos vivendo no mundo exigem formas de trabalhar e tomar decisões, estas baseadas em dados, o que favoreceu o desenvolvimento de novas Startups, no setor agropecuário não é diferente. Segundo o relatório Radar Agtech Brasil 2020/2021, elaborado a partir de uma parceria entre Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), SP Ventures e Homo Ludens Research and Consulting, com apoio do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) o número de startups ativas é 40% maior em relação à edição anterior, pré-pandemia, o que confirma a digitalização do setor.

Todas estas mudanças, entre elas a necessidade de trabalhar a distância, devem ser vistas com olhares positivos. Imaginemos um médico acompanhando à distância seu paciente com sintomas leves de Covid-19. E porque não um médico veterinário, ou o próprio produtor, receber um alerta de que um animal está com alterações de seu comportamento ou acompanhar a evolução de um caso clínico de uma doença em uma vaca. Praticar telemedicina em vacas? Mas, do que se trata? O termo telemedicina tem origem na palavra grega ‘tele’, que significa distância.  Assim, a telemedicina abrange toda a prática médica realizada à distância, independente do instrumento utilizado para essa relação. Diagnosticar e tratar vacas à distância? Não é disso que se trata. Intervenções presenciais sempre serão necessárias, análises clínicas avaliando os sintomas do animal. A questão é identificar mudanças sutis no comportamento de uma vaca que indiquem que ela pode não estar bem, que este animal está apresentando um comportamento fora de seu padrão considerado normal. Acompanhe o exemplo abaixo:

Caso de anaplasmose.


Neste caso podemos observar um caso em que a vaca passou a mudar seu padrão de comportamento no dia 30/09/21 com um aumento gradual de ócio (linha azul), ou seja, essa vaca começou a ficar mais parada. No dia seguinte, dia 01/10/21, o caso seguiu evoluindo onde apresentou uma queda no seu padrão de ruminação (verde), provavelmente passou a comer menos por estar já em desconforto, alterando seu status para animal em desafio. Até o momento fica-se com uma incógnita sobre o que está acontecendo com esta vaca, apenas sabemos que algo de errado está acontecendo e que um olhar mais cuidadoso deve ser dado a ela. O caso seguiu evoluindo negativamente e, no dia 04/10/21 com status de animal em observação, uma avaliação clínica foi feita e o animal foi diagnosticado com tristeza parasitária bovina e devidamente tratado. O próximo passo foi avaliar a resposta dela ao tratamento, que neste caso, foi assertivo pois já no dia 06/10 teve seu status alterado para normal, voltando ao seu padrão de comportamento anterior ao caso da doença.

Mais um caso semelhante, entretanto, com um diagnóstico um pouco mais tardio e com um tempo de recuperação um pouco maior.

Caso de anaplasmose.


Neste caso observamos um animal com alteração de comportamento que se iniciou no dia 13/07/21 e uma alteração de status no dia 14/07 para animal em desafio. A evolução foi gradual e o caso se agravou, no dia 18/07 o status foi alterado para grave e somente então foi feita a análise clínica do animal e o diagnóstico de tristeza parasitária bovina. Com o animal devidamente medicado seguimos observando remotamente sua resposta ao tratamento, que desta vez ocorreu de forma mais lenta tendo status alterado para normal somente no dia 23/07/21, ou seja, 5 dias depois.

É fato que cada animal responde de forma diferente ao tratamento feito, entretanto observamos que animais diagnosticados e tratados com intervalo de dias maior a partir da primeira alteração de status tem uma recuperação mais lenta frente aos diagnosticados e tratados com intervalo menor depois da primeira alteração de saúde. 

Detectar visualmente alterações sutis nos comportamentos dos animais é algo difícil, pouco provável de que aconteça. Com a evolução de tecnologias capazes de monitorar o comportamento das vacas e o crescente desenvolvimento da inteligência artificial, é cada vez mais fácil e rentável adquirir tais ferramentas que alertem pessoas sobre as pequenas mudanças de padrão comportamental que os animais estão sofrendo e possibilitar diagnósticos e tratamentos mais precoces, bem como o acompanhamento remoto destes para avaliar a resposta ao tratamento e fazer, se necessário, mais intervenções é uma prática de telemedicina. 

O mundo em que vivemos, com margens de lucro cada vez mais apertadas, custo dos insumos subindo absurdamente e pouca margem para erros exige mais certeza nas tomadas de decisão. Ações mais rápidas e assertivas se transformam em mais dinheiro para o caixa das fazendas.

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Ezequiel Alan Weber

Analista de Marketing

Formado em Gestão do Agronegócio, MBA Gestão Financeira, MBA Administração, Agronegócio e Finanças